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Review #21: Radiohead - The King of Limbs (2011) [Portuguese]

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The King of Limbs - Radiohead
Um universo paralelo fantasmagórico… Wake up!

Detalhes do Álbum:

Nome/Músico: Radiohead
Nome/Álbum: The King of Limbs
Lançado: 18 de Fevereiro de 2010
Gênero: Rock/Alternativo
Duração: 37:24
Gravadora: radiohead.com
Produtores: Nigel Godrich

Era difícil premeditar que uma até então banda punk/rock do Reino Unido, que idolatrava Joy Division e Fleetwood Mac, depois de gravar seu primeiro single e hino “Creep,” em que a rejeição parecia infindável e a contenção o único remédio, se tornaria um dos mais respeitados atos musicais dos últimos anos e, principalmente, “avant-garde.” Os sinais iniciais apareceram com os subsequentes, “The Bends” e “OK Computer,” álbuns que ainda remetiam Thom e seus companheiros ao estilo rock alternativo, com espessos relevos experimentais. Mas a surpressa só atraiu grande atenção quando Thom resolveu transcrever sua obra na música eletrônica, com “Kid A.” Para tal, contou com a influência de um não-fã assumido, Aphex Twin, e Autechre, dois renomados ícones da sensação IDM (Intelligent Dance Music) que emergia em meados dos anos 90, além de nomes como Charles Mingus contribuindo ao teor jazz da gravação. E assim se deu sequência a um estilo que fatalmente andou com Yorke desde o “revolucionário” “In Rainbows,” ao pessoal “The Eraser,” álbum solo do britânico que caminha para a terceira idade, com 42 anos e uma carreira extraordinária ao lado de seus quatro companheiros, os irmãos Jonny e Colin Greenwood, O’Brien e Phil Selway, além de Godrich , que apareceu depois do genérico “Pablo Honey.”

O gênero IDM parece ter ganho força depois que o Radiohead, após consolidar um público incondicional, resolveu experimentar com seu quarto álbum de estúdio, num estilo e espaço atípicos. É bem verdade que o Radiohead tem sido um componente importante pelo qual se dissemina excêntricas e incomuns notas musicais dos mais diversos gêneros à música pop. A música eletrônica experimental, tão dizimada pelos seus antecessores, encontrou lacuna numa banda que vinha rumo a uma mitificação em massa. Que criou uma cultura e se reclusou em seu interior. É convicto que se afirma que Yorke é uma das figuras mais idiossincráticas e influentes da juventude atual, em especial as elites, seja pela intelectualidade ou pela aflição. É comum encontrarmos grupos indies em ascensão, como os do Arcade Fire, Animal Collective ou Vampire Weekend, e visualizarmos discussões fervorozas, compostas por idéias lúcidas e argumentos incisivos. Não foram bem os nerds que a cultura Radiohead acatou, mas sim sua miscigenação com o hippie, os indies. Grupos de jovens independentes, geralmente com mil pensamentos, mas zero reconhecimentos – mas que às vezes satisfeitos estão com isso: outro fator cultural. A cultura também atrelou orgulho e esnobismo, tão imaculadas no perfil do precursor Morrissey e repetida em ciclo por seus súditos ao longo dos anos. Mas acima de tudo está a aspiração pelo novo e criativo. Pelo diferente e excepcional. Pelo acessível, mas complexo. Esse é o movimento que o Radiohead, propositalmente ou não, carrega.

A questão é por que sua mãe não conhece o Radiohead, mas conhece o Coldplay. E por que os críticos debruçam-se acerca do Radiohead e acham a música tradicional pop, concreta, acéfala, quando não vulgar e banal. As primeiras revisões sobre “The King of Limbs,” o álbum lançado na surdina, com pouco alvoroço e divulgação, opondo-se aos modos convencionais que uma banda da proporção deles mereceria, saíram poucas horas depois. No jornal britânico Guardian, Tim Jonze, um dos defensores da música alternativa e reserva do editor chefe Alexis Petridis, comentou que não havia nenhuma surpresa no novo lançamento, lembrando materiais anteriores deles. Do outro lado, na NME, Luke Lewis insinuou que o amor pelo álbum crescerá gradualmente em seus ouvintes, não sendo tão imediato quanto outros trabalhos. A revisão da BBC e do GigWise honraram ao nível máximo o histórico da banda e sua nova tentativa. É comum que se estranhe e consequentemente se vanglorie a arte, exatamente quando se instiga ao mistério – ou ao abstrato. É com o minimalismo e abstração que Four Tet e Flying Lotus, duas recentes admirações de Yorke, lidam com sua arte. A mesma que agora, com intensidade, fora replicada propriamente em um álbum.

Os resquícios aparecem em “Bloom,” faixa recheada por elementos da IDM e a já mortificada voz penosa de Thom. A introdução é receptiva, mas pouco hospitalar a quem avesso ao estilo é. Aqui os elementos do rock são deixados de lado e os eletrônicos, enfáticos. Eletrônicos esses quase religiosamente histéricos e lineares. Nessa Thom parece descrever a simples experiência da vida por meio de metáforas dos tipos mais estranhos possíveis, desde estar se movimentando fora da órbita, até a “pessoa sem espinha dorsal,” ou seja, frágil. De uma forma ou de outra, “Weird Fishes” parece ser uma das canções a se remeter em mente e, em cadeia, o anterior de “King of Limbs.” O eletrônico é abrupto e ininterrupto não ao acaso: os membros todos se movimentam, por meio das regiões mais distintas e senão espantosas existentes. O objetivo parece ser cada vez mais querer se deslocar da humanidade, enlaçando-se à natureza, mesmo que artificial. O aspecto aéreo, tão presentes em bandas progressivas como Air ou Massive Attack, parece mais notável em boa parte das canções, que chegam exalando oxigênio e se despedem com gás carbônico, quase inóspitas e paralíticas.

Se a harmonia parece deficitária e bastante incongruente, é só porque o senhor Magpie roubou sua melodia em “Morning Mr. Magpie,” que é observado pela sua audácia em reaparecer mesmo depois de danificar. A atmosfera parece antiquada e grime, repleta por névoas. Na grande realidade, mais da metade das canções lembram uma floresta soturna, absorvida por imagens indecifráveis e caminhos desconhecidos. Ao final, depois de Thom reafirmar o furto de sua melodia, aos poucos a poeira esmaece e um som compressado, assemelhando-se a engrenagens de algum objeto motorizado, tonifica seu volume. Ao fundo, pássaros cantam, numa paisagem desértica e abandonada, levando ao nosso olfato uma sensação embolorada. “Little By Little,” particularmente uma das melhores letras do disco, lembra um narrador já conhecido entre os fãs do Radiohead: côncavo, persistente e martirizante. Embora a característica palatável dos seus primeiros projetos tenha sido deixada em segundo plano, o lírico de Yorke continua inferior e imutável. Sempre sendo o “patinho feio” e se alertando com frequência sobre a sina, independente se corroborada ou não. E como o mundo é feito sobre o que você pensa que é, e não pelo que parece, Thom desenha um raro flerte entre sua persona e uma desequilibrada pretendente, que está à beira do descontrole com suas obrigações, horários e rotinas. Regrada, ela personifica o homem moderno, sem tempo, perdido e instável, que encontra refúgio nas drogas, inacapacitado diante de tantos compromissos, deveres e, em especial, expectativas. “Eu não sou idiota, eu devia olhar,” diz o narrador, ciente de como aos poucos se devasta a vida em frente a seus olhos, justamente como Butler relatara que “Nós costumávamos esperar,” numa sociedade relâmpago, cada vez mais impositiva, abusando-se de dinamismos e acima de seu tempo – ou melhor, capacidade.

Feral” retrata todos esses movimentos bruscos, com instintiva selvageria, num instrumental feroz e permeado por botes impiedosamente arremetidos por um felino, que alterna entre o estudo do seu alvo e o desacato para com o mesmo. Em virtude do caráter passageiro, pouco é visto durante essa ação, porém flashes destacam saliências do ataque. Dançante, os impulsos se perdem entre as fagulhas silábicas de Thom, provendo um perfil animalesco ao piscante e quase dissidente ser humano, cada vez mais se perdendo dentro de si mesmo e sua algoz subversão. Tudo é rápido e inconsequente, como um tigre ataca sua preza almejando acabar com a sua fome. Tudo é determinante e conclusivo, sem deixar rastros ou sobrevivências para trás. É assim que age o animal, centrado em si e na sua inflação.

A faixa carro-chefe do álbum, “Lotus Flower,” nos lembra que a amizade entre Michael Stipe e Thom Yorke está além disso, beirando a influência, num clipe reminiscente à própria “Lotus,” lançada pelo R.E.M. como single do álbum “Up” de 1998. No vídeo, Yorke encena as mais exaltadas e epilépticas coreografias imagináveis, com a sábia orientação do consagrado Wayne McGregor, respeitada figura do balé inglês. Fazia tempo que um dos líderes da nossa geração não se submetia a tamanha super-exposição, como quando o fôlego faltou em “No Surprises” ou a rebeldia punk/emo explodiu em “Pop Is Dead.” A música em si, aborda sobre uma relação confusa entre o narrador e um objeto de desejo, que parece em certos momentos inalcançável, seja por motivos pessoais quanto interpessoais. No refrão, onde o instrumental parece planar desprovido de qualquer força gravitacional, Thom simula lentamente o florescer da planta que é considerada afrodisíaca em muitas nações orientais, comparando o fenômeno com o desdobramento entre ele e sua amada, envolvimento contaminado pela insistência com “porquês,” tanto que uma das expressões mais populares é compartilhada ao final: o narrador nos aconselha ouvirmos nossos corações, ao invés de em demasia desprezarmos à emoção receosos pelo que o raciocínio acabara de, pura e simplesmente, supor. Essa mesma emoção, desmedida e incalculável, alastra-se pelo corpo ensandecido do personagem obsoleto que vaga em transe, digno da alcunha de “Rei dos Membros.” Entregue-se a sua natureza, feral.

A comparação é inusitada e até fora de contexto, mas a série de video-game “Forbidden Siren” e “King of Limbs,” em termos espaciais e atmosféricos, podem não ser parecidos apenas por meras coincidências. A interferência, chiados e as batidas cardiácas de um eletrocardiograma quase inválido devido à descuidada ferrugem em “Lotus Flower,” nos faz pincelar um terreno escuro e ininteligível, formado por sussurros e motores gastos por estarem aonde estão por excessivo tempo. “Codex” traz os horizontes sublimes a uma balada exausta e rastejante, com um narrador que sofre para embalar os mais simples tons da sua voz. Mesmo assim, o piano persiste, sem desistir da sua linha melódica perpendicular. A floresta é obscura e felizmente não há nada e ninguém por perto, apenas libélulas, ao redor de um lago puro e inabitável. Assim é narrada a passagem quase transcendental do eu-lírico, que novamente em estado de êxtase, explora em “slow-motion” a paradisíaca, porém quase imperceptível mata.

Os mesmos pássaros ainda cantam ao fundo no amanhecer de “Give Up The Ghost,” num recanto encoberto por neblina e nuvens. Nela Thom resgata sua lucidez, que prendida à melancolia é. O narrador é cansado e desesperançoso, procurando apoio nos braços dela, para recomeçar e recolher o que foi perdido, apesar do medo de se machucar novamente. Recordando uma roupagem mais lúdica de “Videotape” e estranhamente “She Just Likes to Fight” do Kieran Hebden, vulgo Four Tet, “Separator” traça o encerramento da primeira edição do álbum “de jornal” do Radiohead, com frases implorando para ser acordado e afirmando que esse não é o fim. A faixa parece ilustrar um personagem que suplica pela consciência, debatendo-se por ilusões e fantasias máximas, geralmente sufocantes, como em pesadelos que lutamos para acordar. É como se ele atingisse o limite e repentinamente recuperasse sua percepção, aliviado, separando seus sonhos da realidade. Separando o concreto, pelo abstrato. Num álbum em que a acessibilidade sonora pareceu remota, mas a melodia de seus versos, instigantes, sublinhando calejadas técnicas de estruturação pop por vezes ausentes no catálogo dos ingleses.

Esse não é o novo “In Rainbows” e tampouco o “Kid A” 2.0, mas é um álbum que lida com a escuridão – e sua simbologia do desconhecido – e como nossos sensores se estimulam com ela, principalmente a visão, possibilitando a alusão de fantasmas, vultos e sons irreconhecíveis. As guitarras foram deixadas de lado e os sintetizadores pautados, elaborando uma experimentação já conhecida de outras datas pelo seu público, mas nem por isso desconsiderável. Ele é breve, revestido por conceitos e minúcias, num emaranhado de notas. Mais por isso, levará tempo até que tudo seja semeado e o álbum se torne ainda mais imponente, como é de costume com os trabalhos oblíquos dos britânicos. Investigações, teorias, hipóteses, teses, tudo isso ainda se propagará muito no meio pelo qual “The King of Limbs” fora lançado: a internet. Espaço virtual em que o clã, contemporâneo, usufrui com destreza, estimulada antes quando a solidão castigava, mas hoje funciona como complemento, depois que a dor emocional virou “way of life” e comungada é, quando oportuna. “The King of Limbs” funciona mais como uma revisita ao lendário sônico Radiohead, do que uma coleção capaz de se tornar clássica ou precursora. Gera poucos suspiros – ou sustos – mas goza-se com semelhante energia, antes emitida em oportunidades passadas.

Radiohead virou e é uma entidade cultural, como Beatles, Madonna, Michael Jackson, Tim Buckley ou The Smiths são – vide o impressionante legado deixado na música independente do século 21. Uma bandeira, na vitória ou na derrota, no gostar ou não gostar, no ouvir ou não ouvir. Às vezes me questiono se Radiohead é mais cultura do que música, mas percebo que ambos estão inclusos no mesmo lugar e um depende do outro. Existe a fidelidade, e um narrador que só ele nos entende. Que diz o que queremos ouvir, da forma implícita e abstrata, como o art-rock sinaliza, como desejamos encarar nossa verdade. Não é embaraçoso ou passível de fracasso, é dúbio.

https://lh6.googleusercontent.com/_QKA6s8nqg9U/TWb__AMDkZI/AAAAAAAABVc/7FHgHG8cKnU/Radiohead.png.jpg
Melhor Trecho:

"Your clue on hold, snapped up
Crawling with my love
The last one out of the box
The one that broke the seal
Obligation
Complication
Routines and schedules
Drug and kill you
Kill you"

Little By Little

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